O Projecto BIOSPOT

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BioSpot


A escola como promotor da biodiversidade em meio urbano



1. Objectivos



            O presente projecto tem como objectivo principal demonstrar que a escola pode ser um agente promotor da biodiversidade, especialmente em áreas onde os habitats naturais foram convertidos em zonas fortemente urbanizadas. Para tal, será utilizada como modelo de intervenção a Escola Secundária de Leal da Câmara, implementada numa área em crescente urbanização.  

            Este objectivo geral tem subjacentes os seguintes objectivos específicos:

-       Conhecer, divulgar e promover a biodiversidade em meio escolar urbano;

-       Conceber actividades que permitam aliar a aprendizagem científica à educação ambiental;

-       Criar um modelo de intervenção ambiental em meio escolar urbano, focado na biodiversidade;

-       Envolver a comunidade escolar e local na conservação da biodiversidade.



2. Estrutura do projecto e metodologia



            A gestão do projecto será efectuada em parceria entre as duas equipas das instituições envolvidas: Centro de Biologia Ambiental (CBA) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Portugal) e Escola Secundária de Leal da Câmara (ESLC, Portugal). Embora o trabalho no terreno seja desenvolvido pelas duas equipas do projecto, a coordenação geral será da responsabilidade do Centro de Biologia Ambiental. No entanto, cada uma das tarefas definidas seguidamente será coordenada pelo membro da equipa cuja especialização garante a sua realização e conclusão com êxito.



Tarefa 1 – Avaliação da biodiversidade (vegetação e vertebrados) da ESLC

Esta tarefa tem como objectivo fazer uma caracterização biológica da ESLC, focada essencialmente na vegetação e nas espécies de vertebrados. Assim pretende-se aferir a biodiversidade presente na ESLC através da elaboração de uma listagem de espécies, e respectivas fenologias, aferidas durante 10 meses. Dadas as especificidades de cada taxa a metodologia empregue é detalhada separadamente:

Vegetação: Para este grupo será efectuado um levantamento das espécies arbóreas presentes, bem como das não arbóreas com elevada representatividade na Área da ESLC. Será elaborado o elenco florístico que consiste na caracterização das espécies vegetais de acordo com o seu estatuto conservacionista e/ou fitogeográfico e com a legislação nacional e internacional (incluindo tratados internacionais). Serão igualmente identificados in situ todos os exemplares de porte arbóreo, com a colocação de uma placa identificativa em cada um, onde constará o nome comum, o científico e a região de origem, onde a espécie ocorre naturalmente.

Anfíbios: Prospecção directa e diurna das espécies nos lagos existentes, com apoio de camaroeiro; pontos de escuta ao final da tarde/anoitecer nas épocas de reprodução. A amostragem decorrerá em 2 épocas de amostragem, coincidentes com as épocas reprodutoras das espécies deste grupo: início da Primavera, de Fevereiro a Abril (se se verificarem temperaturas superiores a 8°C ao anoitecer) e Outono, em Novembro/Dezembro (após as primeiras chuvas fortes). Em cada uma destas épocas consideram-se 3 sessões de amostragem (± 3 dias), que serão efectuadas em função das condições climatéricas mais adequadas para observação das espécies.

Répteis: Prospecção directa através de percursos pedestres, onde se procede ao levantamento de pedras, troncos ou outros objectos que possam oferecer refúgio às espécies. A amostragem efectuar-se-á apenas numa época, em períodos de maior actividade das espécies deste grupo, ou seja Primavera (época de reprodução e maior visibilidade das espécies). Ao longo desta época serão efectuadas 3 sessões de amostragem, em função das condições climatéricas mais adequadas para observação das espécies (± 3 dias).

Avifauna: Prospecção directa através de percursos pedestres e pontos de escuta, onde serão anotados todos os contactos visuais ou auditivos com as espécies. A complexidade do ciclo anual da avifauna faz variar fortemente a composição das suas comunidades ao longo do ano. Por este motivo, para este grupo, considera-se também, numa escala regional, a sua fenologia, isto é, as variações sazonais dos hábitos das espécies – estivais, invernantes, residentes, migradoras ou acidentais. As amostragens serão efectuadas em cada época do ano (Outono, Inverno, Primavera e Verão - ± 2 dias em cada época).

Mamofauna: Mamíferos carnívoros - Percursos pedestres diurnos, abrangendo todas as áreas da ESLC, para confirmação no terreno da presença das espécies através de observações visuais ou da detecção de indícios de presença (ex. dejectos). As amostragens serão efectuadas em cada época do ano (Outono, Inverno, Primavera e Verão - ± 2 dias em cada época); Micromamiferos (insectívoros e roedores) - Detecção e inventariação através de sessões de armadilhagem utilizando 30 armadilhas para captura de animais vivos, respeitando as normas Europeias de bem-estar animal (modelo: LFATDG - Large Folding Aluminium Treadle and Doors Galvanized  – 23x9x8cm; H. B. Sherman Traps, Inc – Talhahasse, USA), colocadas no recinto da ESLC, e que serão activadas durante 3 noites. Paralelamente será pesquisa a existência de regurgitações de aves de rapina nocturnas (ex. Coruja-das-torres, Tyto alba). Se detectados e após análise laboratorial será possível detectar indirectamente da presença de micromamíferos, visto estes serem espécies base na dieta destes predadores; Quirópteros (morcegos) – Serão efectuados pontos de escuta durante 3 dias consecutivos, nas primeiras 3 horas da noite, em períodos de céu limpo, pouco vento e sem nevoeiro, em locais definidos de forma a abranger a totalidade da área da ESLC. Com um auxílio de um detector de ultra-sons e um gravador digital, durante cerca de 5-10 minutos serão efectuadas gravações em cada ponto que, posteriormente, serão analisadas em laboratório, com recurso a um software de análise de som, para permitir a identificação das espécies, ou grupos de espécies presentes. As sessões de amostragem serão efectuadas numa única época do ano (final da Primavera), uma vez que no restante período a maioria das espécies se encontram a hibernar.

      A localização de todos os vertebrados ou indícios de presença destes animais, detectados durante o trabalho de campo, será georreferenciada. Esta tarefa será da responsabilidade da equipa do Centro de Biologia Ambiental.



Tarefa 2- Levantamento fotográfico das espécies presentes na ESLC

Esta tarefa tem como objectivo fazer um levantamento fotográfico de todas as espécies detectadas durante a implementação da tarefa 1. Prevê-se que a concretização desta tarefa dure 10 meses, dado que para uma melhor caracterização da vegetação da escola e das espécies de anfíbios sujeitas a metamorfose será feito um registo fotográfico sazonal. Pretende-se igualmente obter imagens de aves cuja ocorrência é limitada a um período do ano (ex. invernantes ou nidificantes). As fotografias serão obtidas pelos alunos com o apoio do núcleo de fotografia da ESLC. Pretende assim promover o envolvimento deste núcleo escolar no projecto. As imagens recolhidas serão utilizadas na elaboração de vários materiais de divulgação da biodiversidade existente na escola: a nível local através da inclusão no Guia da Biodiversidade (tarefa 4) e no Percurso Interpretativo (tarefa 5); a nível regional na Exposição na sede do Concelho e a nível global através da disponibilização no sítio da escola onde estarão associadas a pontos de interesse assinalados na plataforma digital a construir (tarefa 6). Com estas fotografias será ainda organizado um Concurso fotográfico entre os participantes (para motivar a sua participação nesta tarefa), bem como um portfolio (acervo fotográfico) passível de ser utilizado por toda a comunidade educativa em acção de educação ambiental. A coordenação é da responsabilidade da ESLC com o apoio da equipa do CBA na identificação dos exemplares fotografados.



Tarefa 3 - Monitorização da biodiversidade presente na ESLC

Esta tarefa tem como objectivo fundamental avaliar como evoluem as comunidades biológicas presentes na escola ao longo do tempo e como é que as espécies que constituem estas comunidades (identificadas na tarefa 1) utilizam o recinto escolar. Assim, ela inclui três objectivos parcelares: Construção e colocação de caixas ninhos/abrigos direccionadas à avifauna – Estes ninhos serão construídos de acordo com as características das espécies encontradas. Assim, serão utilizadas 10 estruturas de dois formatos básicos de caixa-ninho (cinco de cada) adaptadas a espécies de passeriformes (caixa com a frente semi-aberta; caixa com um buraco circular na frente, que poderá ter diferentes diâmetros consoante a espécie); Construção e colocação de comedouros direccionadas à avifauna - Serão construídos dois comedouros artificiais, que regularmente disponibilizarão alimento às aves e cuja manutenção será efectuada pelos alunos; Instalação de câmaras para biomonitorização – No interior de dois das caixas-ninhos e nos dois comedouros, colocados no recinto da ESLC. As  câmaras de vídeo permitirão uma monitorização e visualização do que ocorre no interior da caixa durante períodos de 24h. Um sistema semelhante será utilizado num dos lagos da escola para observação e monitorização das espécies de anfíbios e insectos presentes neste ambiente ripícola. Ambos os sistemas são compostos por câmaras com iluminação infra-vermelha (para permitir filmar durante o período nocturno), associadas a gravadores de formato digital de vídeo. Esta informação alimentará a plataforma digital a ser construída (tarefa 6) com informação de vídeo a ser disponibilizada através do sítio da escola, a nível local para a comunidade escolar, e a nível global para os utilizadores da internet. Esta tarefa durará 10 meses e será da responsabilidade da equipa da ESLC, com o apoio científico do CBA.



Tarefa 4- Elaboração de um guia das espécies existentes na ESLC

Como consequência lógica das tarefas 1 e 2, e utilizando os dados e elementos produzidos nessas tarefas, pretendemos elaborar um guia das espécies detectadas no recinto da ESLC, que seja um veículo de divulgação da biodiversidade existente neste estabelecimento de ensino, direccionado à comunidade escolar e à população das zonas envolventes. Por outro lado, será igualmente uma ferramenta fundamental a integrar a tarefa 5, funcionando como elemento de apoio aquando a execução dos percursos ambientais interpretativos por parte dos alunos e visitantes (ex. alunos de outras escolas do concelho). Este guia incluirá uma ficha individual identificativa para a maioria das espécies de fauna e flora existentes na ESLC. Essas fichas serão elaboradas pelos alunos, embora a coordenação da tarefa seja da responsabilidade dos elementos da ESLC, com o apoio científico do CBA. As fichas incluirão uma descrição sucinta da morfologia da espécie (que permita a identificação no terreno), a sua identificação taxonómica (nome comum, científico), algumas curiosidades relativas à sua bioecologia, a referência da altura do ano em que esta poderá ser observada na ESLC, a sua distribuição natural no mundo e uma fotografia identificativa. Esta tarefa decorrerá durante cerca de dois meses, aos quais se acrescentará o período necessário para a sua edição e publicação.



Tarefa 5 - Delineamento de um percurso ambiental interpretativo na ESLC

Com recurso ao guia das espécies elaborado na tarefa 5 e aos dados da tarefa 1 e 2, pretende-se com esta tarefa delinear no recinto da escola um percurso ambiental interpretativo que permita a quem o efectue entrar em contacto com os diversos elementos da biodiversidade presentes na ESLC, bem como contextualizar o que vai observando de acordo com os requisitos das espécies, fenologia, papel nos ecossistemas e importância conservacionista a nível nacional e internacional. Assim, serão definidos diversos pontos de paragem no percurso (que terá uma extensão total aproximada de 500-700m), onde se afixaram painéis informativos onde constarão as espécies passíveis de aí serem observadas, bem como alguma informação acerca da bioecologia destas e do seu papel nos ecossistemas. Estes painéis serão igualmente elaborados pelos alunos da ESLC, com o apoio científico do CBA. Os elementos da ESLC coordenarão esta tarefa. O percurso será igualmente transposto para a plataforma digital ser construída (tarefa 6) na qual será disponibilizada igualmente a informação referente a esses pontos de paragem, que estarão representados num mapa digital.



Tarefa 6 – Construção de uma plataforma digital para divulgação dos resultados do projecto online.

            Esta tarefa tem como objectivo criar uma plataforma digital que permita divulgar os resultados do projecto online, atingindo desta forma um público mais vasto e permitindo que outras escolas, quer do Concelho de Sintra quer de outras regiões do país e do estrangeiro possam consultar os resultados do projecto e promover outras abordagens que se adaptem melhor à sua área de intervenção e comunidade.  







3. Divulgação do projecto

      A divulgação do projecto será feita de forma faseada e a diferentes escalas. Assim, prevê-se a apresentação de dois relatórios, um intercalar (findos 6 meses de implementação) e outro final (após a conclusão do projecto). Destes, constarão a descrição detalhada dos métodos utilizados, resultados obtidos e elementos de divulgação produzidos.

      Adicionalmente, pretende-se divulgar o projecto a três escalas distintas. A nível local (escola) será delineado um percurso interpretativo que incluirá a instalação de painéis informativos relativos às espécies presentes na escola, e elaborado um guia de identificação dos exemplares, passíveis de serem observados na área de intervenção. Todas as actividades e resultados serão ainda difundidos na escola através da rádio e jornal escolares.

      A nível regional será organizada, na sede do Concelho, uma exposição fotográfica dos espécimes de fauna e flora existentes na escola.

      A visibilidade nacional e internacional do projecto será assegurada pela disponibilização online (via sítio de internet da escola) de todos as vertentes do projecto, incluindo a monitorização, de ninhos de aves a instalar no recinto escolar e dos lagos que serão alvo de recuperação ecológica. Os resultados deste projecto serão, ainda, apresentados em conferências científicas nacionais e internacionais.





4. Cronograma


Mês

1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Tarefa 1 - Avaliação da biodiversidade












Tarefa 2- Levantamento fotográfico das espécies












Tarefa 3 - Monitorização da biodiversidade












Tarefa 4- Elaboração de um guia de espécies












Tarefa 5 - Delineamento de um percurso ambiental interpretativo












Tarefa 6 – Construção/manutenção de uma plataforma digital












Entrega de Relatórios
(1 – intermédio; 2 - Final)





1





2



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